Corpo e psicose na leitura de Lacan do caso Schreber
DOI:
https://doi.org/10.69751/arp.v14i27.5460Resumo
A temática do corpo é um assunto bastante recorrente na teoria lacaniana. A relação do sujeito com o corpo, para Lacan, é duplamente mediada pela imagem e pelo significante, tal como se expressa em dois momentos emblemáticos de seu ensino. Num primeiro momento, na teorização sobre o estágio do espelho, o principal operador da subjetivação do corpo é a imagem, e a constituição do sujeito é pensada, sobretudo, no registro do imaginário. Num segundo momento, Lacan privilegia o registro do simbólico e o significante se torna o mediador por excelência da relação do sujeito com o corpo, agora concebido, acima de tudo, como um suporte para as operações da letra. Nesse contexto, o objetivo desta pesquisa é refletir sobre a questão do corpo na teorização sobre as psicoses, a partir da leitura de Lacan do caso Schreber, o qual foi escolhido por sua relevância na formulação da teoria lacaniana das psicoses e também devido ao destaque que os sintomas corporais têm na sintomatologia do caso. Esta investigação, de natureza teórico-conceitual, dedica-se à análise do Seminário 3 de Jacques Lacan (1955-1956/1985), com ênfase especial em sua leitura e interpretação das Memórias de Schreber. O estudo também examina a forma como Lacan retoma, tensiona e reinterpreta a abordagem freudiana do caso, promovendo deslocamentos fundamentais na compreensão da psicose à luz do campo do significante. Partindo do caso Schreber, Lacan conclui que os sintomas e fenômenos que envolvem o sujeito psicótico e o seu corpo podem ser concebidos como tentativas de estabilização, que fazem suplência à falta do significante paterno, quando não é possível uma intermediação do aparelho simbólico.