Deixar que o feminino se escreva como método: a escrita do impossível na pesquisa em Psicanálise
DOI:
https://doi.org/10.69751/arp.v14i28.5964Resumo
Este artigo propõe uma metodologia de pesquisa em Psicanálise, denominada “escrita do impossível”, concebida para investigar o feminino como operador clínico e conceitual, justamente por sua resistência à formalização tradicional e à lógica do todo. Em vez de reduzir o feminino a um objeto de representação conceitual, assume-se que ele se inscreve como impossível, sendo exatamente essa lógica que orienta o método. Fundamentada em uma abordagem teórico-clínica, a escrita do impossível se estrutura a partir de quatro princípios norteadores: (i) a lógica lacaniana do não-todo; (ii) a temporalidade freudiana do só-depois (Nachträglichkeit); (iii) a articulação com a semiótica tensiva, que orienta uma leitura-escuta sensível às intensidades; e (iv) a ética da clínica do escrito, que transita entre escuta e formalização. A metodologia propõe uma torção da escuta à leitura, introduzindo o conceito de (f)ato clínico como construção e acolhendo o não-saber como eixo ético de rigor e orientação do saber. Assim, a escrita do impossível se afirma como uma metodologia que permite que o feminino não seja apenas tematizado, mas se escreva como método, conduzindo a pesquisa a encarnar, e não apenas expor, a lógica de seu objeto.