Psicanálise aplicada?: Sobre o uso da teoria psicanalítica nas pesquisas
DOI:
https://doi.org/10.69751/arp.v14i28.5972Resumo
A partir da experiência docente na disciplina Seminário de Pesquisa (SEMP), de um Programa de Pós-Graduação em Psicologia, este artigo investiga os desafios metodológicos recorrentes enfrentados por pesquisadores em Psicanálise no ambiente acadêmico. O trabalho identifica uma tendência preocupante: a utilização precipitada e acrítica de conceitos psicanalíticos como “respostas prontas”, em detrimento da elaboração cuidadosa de problemas de pesquisa originais. Esse fenômeno, nomeado por nós como “ansiedade metodológica”, leva a uma repetição dogmática da doutrina, dificultando a inovação e a crítica. O artigo argumenta que esse impasse se aprofunda por uma dinâmica paradoxal: ao mesmo tempo que concede um estatuto epistemológico privilegiado à Psicanálise, ele a amputa de seu enraizamento clínico e histórico. Para contrapor essa lógica, os autores propõem que a metodologia em Psicanálise seja entendida não como um conjunto de regras, mas como: a) resistência à urgência por conclusões, valorizando o tempo lógico da elaboração; b) superação da mera imitação de autores canônicos, incentivando uma leitura crítica e criativa, que evite a “mortificação” da voz autoral do pesquisador; e c) inserção da Psicanálise em um programa de epistemologia histórica das ciências humanas. Como contribuição central, o artigo defende a necessidade de os pesquisadores desenvolverem “marcas autorais”, construindo problemas de pesquisa que dialoguem, de forma crítica e advertida, com as complexidades da realidade social brasileira. A proposta é formar investigadores capazes de empregar a Psicanálise como um referencial de investigação crítica, e não como um repertório dogmático, fomentando, assim, uma produção de conhecimento psicanalítico ao mesmo tempo rigorosa e singular.